Dentre todas as histórias que chegaram até mim, essa chamou muita atenção.
“Eu poderia ter sido mais um número nas estatísticas de feminicídio do Brasil, porém, com a melhor rede de apoio do mundo, eu consegui enfrentar a situação, pois a minha vida valia muito mais do que tudo que tive de deixar para trás sem nunca mais poder revisitar: o apartamento em que morei por 10 anos, minha carreira bem sucedida, minha
cachorrinha de estimação que foi minha companheira por 8 anos, parentes, amigos e colegas. O destino reservou uma surpresa, pois nunca imaginei que que seria beneficiária da proteção subsidiária da França, me tornando cidadã europeia muito antes do que imaginava e tudo isso porque comprovei que a polícia e a Justiça brasileira não poderiam me proteger.”
Vou contar a história de uma advogada que estava no auge da carreira e acreditando ter encontrado o príncipe encantado e que formaria a sua tão sonhada família, depois de ter já efetuado várias conquistas pessoais e profissionais.
Assim, como a maioria das mulheres que estão em um relacionamento abusivo, tem muita dificuldade de entender o que realmente está acontecendo, e o nível do risco que está correndo, foi exatamente isso que aconteceu com essa advogada.
Como era engajada na luta contra a violência contra a mulher, ela teve vergonha de fazer o boletim de ocorrência relatando as ameaças e tentou terminar a relação sozinha e em silêncio. Ela resolveu focar na própria vida e ignorar as perseguições do ex-companheiro que quase todos os dias estava estacionado próximo do apartamento dela e ficava vigiando, controlando e tentando um contato.
Ela seguiu ignorando a perseguição até que um dia ele apareceu na praça que ela passeava com sua cachorrinha, dizendo que estava ali para matá-la e ele não estava brincando, ele portava uma arma municiada. Ele já havia apontado uma arma municiada para ela, essa não era a primeira vez, por tanto, foi nesse momento que ela percebeu
que a única maneira de ter paz, seria chamando a polícia.
Esse dia modificou completamente a vida dessa advogada, pois ela não imaginava que, de fato, apesar da Lei Maria da Penha ser muito positiva, ela não poderia impedir seu ex-companheiro de acabar com a sua vida.
Desse dia em diante, ela nunca mais pode retornar para sua casa e depois de tentar ficar em segurança em outro estado, resolveu sair do país, pois a distância não foi suficiente para barrar as ameaças.
Mesmo sem ter idéia do que poderia acontecer, essa advogada decidiu mudar de país e resolveu, para se proteger, encaminhar seu passaporte Italiano, na Itália mesmo.
O que ela não imaginava é que mesmo portanto todos os documentos da polícia e justiça brasileira e provando que estava correndo risco no Brasil, seria impedida de entrar na Europa e estava em processo de DEPORTAÇÃO, tendo ficado detida por quatro dias no aeroporto da Croácia, ressaltando que a embaixada Brasileira da Croácia decidiu não intervir por ela para que ela entrasse na Europa.
Assim, no voo da deportação, ela ficaria um dia em Paris para um escala, antes de retornar ao Brasil e foi aí que ela teve a coragem de pedir ajuda para polícia de Imigração Francesa. Essa história rendeu um livro para quem quiser saber todos os detalhes, mas em resumo, essa advogada conseguiu a Proteção da França, que concedeu asilo político
a ela, sendo a única brasileira da história a ter recebido a proteção da França em razão de violência doméstica.
A França acolheu essa brasileira, ajudando ela com vários suportes como moradia, alimentação, estudo, saúde, lazer, tudo isso, até o julgamento do processo que concedeu o direito de morar e trabalhar na França para sempre.
Durante este ano que ela aguardava o julgamento, ela não ficou parada. Realizou três projetos para ajudar as pessoas:
1. Livro autobiográfico relatando todas as situações de assédio e abusos que passou e como saiu delas, para ajudar as
mulheres que passam por isso;
2. A plataforma jurídica MEDEFENDER, na qual ela possibilita que qualquer pessoa possa ter acesso a informações e embasamento técnico com baixo custo em qualquer questão administrativa que não necessite de advogado, em princípio.
Com a plataforma, qualquer pessoa pode fazer seu pedido ou defesa em âmbito administrativo, tendo acesso a
informações técnicas qualificadas, podendo ela mesma solucionar sem a necessidade de contratar um advogado;
3. Projeto de planejamento previdenciário Internacional: Uma vez que a advogada sabia que não estaria mais segura no Brasil, decidiu então internacionalizar seu escritório estudando os acordos internacionais na área de sua
especialidade e se tornou especialista no planejamento previdenciário Internacional, fazendo a gestão das
contribuições, com referências legais e cálculos, indicando quais as opções existem e qual é a forma mais vantajosa
para a pessoa, considerando os acordos previdenciários internacionais, sendo uma das poucas profissionais do
mundo que trabalham com essa especialidade.
Conhecendo toda a história dessa advogada, que poderia ter virado estatística de feminicídio, mas, mesmo contrariada, ouviu a rede de proteção e conseguiu se proteger, evitando o pior e começando uma
nova vida em um país de primeiro mundo, que a acolheu.
Além de toda a coragem dela, que não falava uma palavra de francês quando chegou chegou no país, além de enfrentar um processo judicial para garantir seu direito, o fez em país estranho, sem compreender ou se expressar adequadamente, por não conhecer o idioma, tudo depois de ter enfrentado um câncer, e convivendo com
uma síndrome genética chamada Beckwild Widman, que causa hipoglicemia e pressão baixa frequentemente.
Que essa história possa ser exemplo de força e determinação para todas as mulheres que se encontram em sofrimento nos dias atuais. Saibam que vocês podem e devem buscar um futuro diferente e
que por mais que vocês acreditem que não existe solução ou futuro, ou que vocês não podem largar a casa, o cargo, o trabalho, a família que construíram, saibam que, se você estiver em sofrimento por que está
sendo vítima de violência, não medo de mudar, pois o pior é o que você está vivendo. Com certeza, terás de recomeçar a vida, mas por que não uma nova casa, uma vida vida, um novo país, um novo trabalho?
É verdade sim que, infelizmente, o agressor é quem está realmente livre, pois depois das ameaças, a vida deles continua a mesma. Eles não precisam se esconder, alugar uma nova casa, pagar a viagem ou fazer como essa advogada que vendeu tudo o construiu durante a vida para salvar a sua vida. Mas, ouvindo a história até o fim e
vendo o que ela produziu nesse tempo de transição. Ela teve a coragem de desapegar de tudo o que tinha e produziu lindos e úteis trabalhos para a sociedade, pois imagine vocês, mulheres, que passam assédios ou qualquer outra situação, antes precisavam enfrentar uma série de coisas para resolver, mas agora, com a plataforma MEDEFENDER, vocês podem fazer isso com um custo muito baixo.
Então, só posso dizer: sigam o exemplo dessa mulher, aceitem ajuda de quem a oferecer com amor e transformem a sua vida, sendo útil para a sociedade.